Paçoca de Pinhão
Frio aqui no sul é sinônimo de roupa bonita, de festas tradicionais e, principalmente, de comida boa! Dentre as principais comidas conhecidas aqui no sul, a paçoca de pinhão encanta pela riqueza de sabores. É um prato típico da culinária sulista e apresenta como ingrediente principal, o pinhão, a semente da araucária.
Eu sempre ouvia falar da paçoca de pinhão, mas acabava sempre comendo ele puro, apenas cozido. Foi quando vim morar no Oeste e meus amigos, e vizinhos, Dimas Rosa e Graziela Amarante Dias nos convidaram para ir jantar na casa deles e nos apresentaram a essa maravilha. Eles são do planalto catarinense (região da Serra) e, naquelas localidades, a culinária baseada na utilização dessa iguaria é bem forte.
Com a amiga Graziela Amarante
A receita do Menu de Família dessa semana é um prato tradicional da culinária catarinense e que a Grazi aprendeu com a mãe a qual, por sua vez, também aprendeu com a família, porém não soube dizer de quem é a receita. E se depender da minha amiga, logo logo a Maria Laura já vai pro fogão aprender a cozinhar essa iguaria (assim como quem estiver lendo esse texto hahahaha).
A título de conhecimento, a minha vizi enviou algumas curiosidades relacionadas à origem da paçoca. Seguem alguns trechos: "Originalmente, a paçoca de pinhão foi preparada muito antes dos primeiros colonizadores chegarem à Serra Catarinense e data de centenas ou milhares de anos. Contudo, os portugueses que aqui chegaram, gostaram da ideia e a adaptou ao seu paladar. Segundo a tradição local, após muitas batalhas e com alguns índios já aculturados pelos imigrantes, um colonizador português viu um índio caigangue (índio da região) e, sem saber falar muito bem, perguntou o que era aquilo que ele preparava com pinhão (na linguagem indígena, Fág fy). Segundo a tradução pelo dicionário bilíngue caigangue – português, da Profª Drª Ursula Gojtéj Wiesemann, a conversa, caso realmente tenha ocorrido, foi mais ou menos assim: “Fag fy jãkrunh ky ég, nénh ky kyfãn kg tyny ky koti”, explicou o índio. Que significa: “Ajuntamos o pinhão para cozinhá-lo, descascá-lo e socá-lo para comer”. Então, o colonizador com dúvidas perguntou ao colega, o qual pensava entender bem o idioma, se ele sabia traduzir bem: O que ele disse? Indagou. – Ele disse que…é….é ..é Paçoca! …Isso! Paçoca de pinhão! E assim nasceu a paçoca de pinhão para os portugueses. Provavelmente, ele não experimentou aquele dia, já que era comida de ‘selvagem’. Porém, deve ter ficado morrendo de inveja. Mas, com o tempo, o pessoal daqui foi misturando com carnes que sobravam das caças, adicionavam mais uns temperos e resultou nesse prato que esta aí hoje: delicioso e com muita história pra contar."
Sobre uma das festas de maior sucesso no Estado, a Festa do Pinhão, a minha amiga também fez um breve histórico: "A Festa Nacional do Pinhão é uma evento gastronômico e cultural realizado na cidade brasileira de Lages, no estado de Santa Catarina. A primeira edição ocorreu na década de 80, como uma mostra de campo, denominada Festa do Interior. Nela, eram servidos pratos típicos salgados, doces caseiros e bebidas, como paçoca de pinhão, entreveiro, quentão. As atrações ficavam por conta de apresentações nativistas, bailes, domingueiras e outras, como torneio de laço, concursos, trovas e missa campeira (crioula). Com o tempo, a Festa do Pinhão se tornou um evento indispensável no calendário turístico de Santa Catarina. O que era apenas uma manifestação da cultura lageana ganhou destaque nacional e que atrai, todos os anos, mais de 350 mil pessoas em sua grande maioria turistas brasileiros e estrangeiros. Hoje é considerada a maior festa tradicionalista do Brasil e movimenta todo o setor econômico da Serra Catarinense. O símbolo da festa é a Gralha Azul - ave responsável pela reprodução natural da Araucária angustifolia, espécie de conífera que produz o pinhão. Ao se alimentar da semente da árvore, assim como outras espécies da fauna regional, a ave costuma armazenar o pinhão em tocas de tatu ou enterrar superficialmente a semente em locais ermos dos campos disseminando, dessa forma, o pinheiro brasileiro."
Fico imensamente feliz em poder compartilhar com todos um pouquinho da história aqui do meu Estado. Estado que tanto amo e que muito me faz feliz. Gostaria de agradecer aos vizinhos, Grazi e Dimas, por fornecerem essa receita incrível, riquíssima de sabor e cheia de história.
A receita é bem fácil de se preparar e o passo a passo está bem detalhado. Quando pronta, eu aconselho a servir num rechaud pra poder mantê-la aquecida. Pão e vinho são acompanhamentos perfeitos para esse prato, além de boa companhia, é claro!
OBS.: como leva muitas carnes, é um prato mais "pesado" por assim dizer... Mas é incrível! Muito, muito, muito gostoso! Comeria em quantidades absurdas! E garanto que vocês também irão gostar!
Ingredientes
500 g de carne de gado moída (pode ser patinho)
250 g de carne de porco moída (eu utilizei mignon)
100 g de bacon
200 g de calabresa
2 Kg de pinhão
1 Cebola
1 maço de cebolinha verde e salsinha
1 pimentão verde
1/2 Pimenta dedo de moça
Sal
Modo de Preparo
1 - Na panela de pressão, coloque os pinhões, cubra com água e leve para cozinhar em fogo médio. A partir do momento em que começar a apitar, conte 25 minutos. Desligue o fogo, espere todo o vapor sair. Descasque os pinhões e, em seguida, passe eles num processador de alimentos. Faça o mesmo com a calabresa e reserve. Descasque e pique a cebola, lave e pique o pimentão e a pimenta dedo de moça, pique os temperos verdes e reserve.
2 - Pique o bacon e leve para fritar em fogo médio até que fique completamente dourado. Reserve.
3 - Na mesma panela em que o bacon foi frito, junte a carne de gado, a carne de porco e a calabresa e leve ao fogo médio para cozinhar.
4 - Quando as carnes estiverem bem cozidas, acrescente o pinhão, a cebola, o pimentão, a pimenta dedo de moça e os temperos verdes picados.
5 - Por fim, junte o bacon e mexa por mais 3 minutos. Sirva a seguir acompanhado de fatias de pão.
(Receita da amiga Graziela Amarante Dias para o Menu de Família)